quarta-feira, 9 de julho de 2008

O Enigma Dodô


O artilheiro dos gols bonitos, como é conhecido Dodô passa novamente por uma fase de contestação em sua carreira. Por sinal, isso não é novidade para o atacante de 34 anos. Seu surgimento causou expectativas no São Paulo em 1995. Com belos gols e atuações dignas de uma promessa que se consagra, Dodô chegou até a seleção brasileira. Apesar de não ter durado muito, ele continuou a marcar seus gols no tricolor paulista até 1998, quando se envolveu em discussões com a torcida, inclusive chegando a comemorar um gol fazendo gestos de banana para seus desafetos, encerrando seu ciclo no Morumbi.
Ganhou uma nova oportunidade agora no Santos. No primeiro ano até contribuiu um pouco, mas no ano seguinte acabou no banco de reservas. Em 2001 pegou a ponte aérea e foi parar no Botafogo. Sua chegada no segundo semestre foi razoável, mas no início de 2002, eis que o atacante deslanchou a marcar na Taça Rio - São Paulo e no estadual voltando a ser prestigiado. Resolveu voltar a São Paulo, para vestir a camisa do Palmeiras. Tornou a fracassar e fez parte do elenco que foi rebaixado no Brasileirão.
Atravessou o oceano e partiu em busca de novos horizontes na Coréia do Sul e posteriormente no Japão. No segundo semestre de 2005 regressou ao Brasil, apenas para compor o bom elenco do Goiás que ficou em terceiro no campeonato nacional, amargou a reserva. Próximo ano, o alvinegro carioca em busca de um matador, decidiu dar novamente uma chance para quem havia se adaptado tão bem ao clube na passagem anterior. Dodô foi protagonista da conquista do Campeonato Carioca e reviveu seus dias de glória, quando no segundo semestre o então artilheiro da equipe no Brasileirão, novamente deu as costas ao time que o reergueu, para se aventurar no mundo árabe.
Em 2007 decidido a voltar ao Brasil, acreditem, o Botafogo novamente abriu as portas ao artilheiro lhe cedendo todos os privilégios de um ídolo. Ele chegou com um discurso de que ali era a casa dele e que planejava encerrar a carreira em General Severiano. Todos estavam felizes. Jogador, dirigente e torcedores. Dodô formou um dos melhores ataques do futebol brasileiro ao lado de Jorge Henrique e Zé Roberto. Porém o time do técnico Cuca, apresentou o futebol que mais empolgou durante boa parte do ano, só que o vice-campeonato carioca e o tropeço na Copa do Brasil, abalaram as estruturas do conjunto.
Trauma superado, o Botafogo disparou na liderança do Campeonato Brasileiro e pintava como favorito. Até nosso ilustre Dodô, ser acusado de doping por uso de um medicamento emagrecedor. O artilheiro pegou uma suspensão de 120 dias e assistiu seu time desmoronar em sua ausência. O clube e o advogado do jogador recorreram da decisão e conseguiram a eliminação da pena. Alívio a todos, mas o clima já não era mais o mesmo. A equipe estava em um declíneo que nem o artilheiro conseguiu salvar de um novo fracasso.
A última esperança da temporada para o Botafogo e Dodô estava na Copa Sul Americana. Tudo andava bem, vitória na primeira partida no Rio de Janeiro diante do River Plate. Na Argentina, o clube carioca vencia boa parte do jogo até os acréscimos quando tomou a virada que culminou em mais uma eliminação. Vexame, a torcida não poupou ninguém e chamou o grupo de “time de bonecas”. O fio de meada foi quando o dirigente Carlos Augusto Montenegro veio a público dizer que era um time de covardes que ao término do ano iria mandar todo mundo embora. Dodô não aceitou e se manifestou contra o cartola. Decidiu abandonar o barco pela terceira vez.
Eis que o rival Fluminense apareceu como uma nova oportunidade para Dodô mostrar seu talento. O tricolor apostou alto em contratações e o artilheiro dos gols bonitos não estava sozinho na condição de estrela. Leandro Amaral, Washington, Conca e o craque da casa Thiago Neves dividiam os holofotes. Leandro logo retornou ao Vasco e Dodô viu sua chance de se firmar como titular. Apesar de ter assinalado outras obras de arte na Libertadores, o atacante viu da reserva a segunda fase em diante, mesmo tendo entrado e resolvido em algumas ocasiões, demonstrou não estar satisfeito no banco.
A derrota na final do torneio continental foi o abismo para o Fluminense e seu treinador Renato Gaúcho que já se intitulavam campeões. A torcida ficou na bronca com Dodô, por ele ser um artilheiro frio, que não comemora gols, nem demonstra estar incorporado com o clima de decisão. A verdade é que ele nunca foi reverenciado por atitudes extra campo. O artilheiro jamais comprou briga nos bastidores nem nunca deu alfinetada em adversários em semana de clássico. Quem dera comemorações extravagantes. Sua especialidade sempre foi o gol e com estilo.
Dodô é como um prisma, depende do ponto de vista que você olhar, ele vai brilhar ou ofuscar. Um jogador da classe dele, deveria ter conquistado mais glórias durante sua carreira. A categoria com que marca seus gols nunca se repetiu em suas decisões fora dos gramados. Precipitações e falta de consideração custará caro ao artilheiro, que após encerrar seu ciclo no campo, não será reconhecido como ídolo de nenhuma torcida. Posto este, que poderia muito bem ter ocupado no Botafogo. Um ídolo passa por cima de atritos e ofensas de dirigentes mostrando seu valor no campo. Afinal a torcida botafoguense sempre esteve ao seu lado. Dodô será lembrado como um eterno craque, nunca como um ídolo.

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